O fim de quem com [o meio] eça

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segunda-feira, janeiro 29, 2007

Mulher da noite


Acordou de um sono não dormido olhando para o teto. Seu braço pesava sobre a fronte, mas não era tão pesado quanto sua cabeça.

Fungou para tirar o pigarro que lhe incomodava com certa freqüência, doeu sua alma. “Whisky também era capaz de fazer a cabeça doer...” anotou em pensamento. Nessas horas seu corpo urgia pelos clichês, queria um cigarro.

“Será que ela vai acordar...” pensou, era muito cedo ou muito tarde para conversar, se contentava apenas em olhar para ela.

Os cabelos curtos eram suficientes para brigar por cada centímetro de espaço no seu rosto. Desgrenhados lançavam-se para todos os lados, como um time de futebol americano que não sabia exatamente para onde atacar, mas estava determinado a fazê-lo mesmo assim. Ela tinha a respiração pesada, quase roncava, então passou com o braço por cima do quase inerte corpo para pegar o maço e a caixa de fósforos.

Estava decidido a fumar na janela para ver algum movimento, mas sabia que não havia de ver nada melhor lá fora. Pôs um cigarro na boca, riscou um fósforo e o acendeu gentilmente, tinha os olhos fixos nela.

Sentando-se na beira da cama, deu a primeira baforada, que a fez tossir e virar para o lado dando-lhe as costas. Ele gostava dos quadris largos dela, passara uma parte da noite tentando convence-la que, além do seu apreço estético, para ele eles simbolizavam grande fecundidade. Não funcionou... ela continuou os odiando. Permaneceu, assim, fitando-a no escuro até que o cigarro apagasse e deitou-se novamente, com cuidado para não a acordar. Deu as costas para ela e fechou os olhos, mesmo sabendo que não ia dormir... Como ele amava aquela mulher...

sábado, janeiro 13, 2007

O burro, Nietzsche, a merda e o forró

Depois de zanzar por aí olhando um ou outro blog alheio devo admitir que tenho me sentido "emburrescido" diante de tantas coisas boas que li. Nem adianta ficar de orelha em pé por causa do neologismo, já me pus no lugar do eqüino, o que fazer? Me chamar de burro duas vezes? Pode me chamar trinta, não me importo...

Aos 19 me considerava uma pessoa instruída, lia de tudo (ou achava que lia). Nada daquela listinha de escola, não! Corria atrás de Nietzsche, Eco, Shakespeare, Wilde, Dostoiévski ... Ainda achava que escrevia muito, me metia até a metrificar! Dez anos e quatro graduações (incompletas, devo dizer) depois, leio muito pouco e escrevo quase nada, dei por mim que sou um limitado mesmo.

Não estou me menosprezando, não é isso! Não me acho pouca merda! Sou muita merda e daquelas fedorentas! Apenas me acho aquém da quantidade de merda que planejei para mim neste momento. Achei que chegaria aos trinta bem resolvido: emocionalmente estável, literariamente capaz, escrevendo bem, profissionalmente brilhante e sabendo dançar forró. Pouca coisa, né? Pois é, eu costumo mirar alto. Mas dos três primeiros pontos eu já meio que desisti, preciso de foco.

Profissionalmente, acho que estou indo bem. Dizem que sou bom com o bisturi e a agulha, mas estou longe ainda do brilhantismo. O que me deixa chateado mesmo é a minha relação com o forró. Gosto MUITO de forró, de verdade mesmo. Apesar de minha criação “rock n´rollística”, sempre senti um carinho especial pelo “bate coxa”. O problema é que ele nunca gostou muito de mim.

Imagine um gringo daqueles, conexão Inglaterra - Rio Scenarium... Imaginou? Sou eu dançando forró, a encarnação de um toco de carvalho em gente! Triste! Mas eu gosto mesmo assim, não importa! E já que toquei no assunto, vou pedir enfaticamente para “O fim” incluir aulas de forró nas minhas resoluções de ano novo. Quem sabe dessa vez eu aprendo...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Poisson d'avril


http://www.tubinho.com.br/fotos.htm


"Há muitas explicações para o 1 de abril ter se transformado no Dia da Mentira. Uma delas diz que a brincadeira surgiu na França. Desde o começo do século XVI, o Ano Novo era festejado no dia 25 de março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1 de abril.

Em 1564, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX da Fraça determinou que o ano novo seria comemorado no dia 1 de Janeiro. Alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo, pelo qual o ano iniciaria em 1 de abril. Gozadores passaram então a ridicularizá-los, a enviar presentes esquisitos e convites para festas que não existiam. Essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries.
Em países de língua inglesa o dia da mentira costuma ser conhecido como April Fool's Day ou Dia dos Tolos, na Itália e na França ele é chamado respectivamente pesce d'aprile e poisson d'avril, o que significa literalmente "peixe de abril".


No Brasil, o 1 de abril começou a ser difundido em Pernambuco, onde circulou "A Mentira", um periódico de vida efêmera, lançado em 1º de abril de 1848, com a notícia do falecimento de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. "A Mentira" saiu pela última vez em 14 de setembro de 1849, convocando todos os credores para um acerto de contas no dia 1º de abril do ano seguinte, dando como referência um local inexistente."

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_da_mentira

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Sei que ainda estamos em janeiro mas "O fim" quer falar de um outro mês, mais especificamente sobre um outro dia... Do dia que ele acredita ser, como os franceses do século XVI, realmente o primeiro do ano.

Ele veio soprar isso no meu ouvido outro dia enquanto eu estava dirigindo. Pouco antes eu havia visitado o perfil de três pessoas queridas, cujo aniversário era neste fatídico dia. "Deve ser um sinal!" pensei e pensei durante varios dias. Quando estava quase desistindo de pensar, "O fim" me soprou a idéia de colocar isso num blog.

Falemos sério: em janeiro estamos "todos" de férias, que começam em dezembro mais ou menos... É só ver as ruas como estão cheias de pessoas sem ter ou com muito pouco a fazer, bares e cinemas lotados de segunda a segunda... Tente fazer contato à trabalho com alguém nesse período, certamente será difícil, mas é óbvio que há exceções.

Em fevereiro ocorre a síndrome do carnaval, sobre a qual não pretendo discorrer pois "O fim" não me pediu pra falar sobre isso... O Papa também não tem nada a declarar sobre o assunto.

Em março as coisas começam a esfriar/esquentar... As águas fecham o verão mas sabe-se lá porque as pessoas parecem reengrenar. "O fim" me disse que tem algo a ver com o calendário pagão, posição do sol, essas coisas... Descobri na internet que ao final de março esperimentamos o Equinócio de Outono aqui no sul, enquanto os gringos lá de cima vivem o de Primavera. Dias e noites com a mesma duração aqui e lá... Tudo o que está fora e dentro, simbolicamente, com o mesmo peso... A consciência e o profundo.

Chegamos, então, ao 1 de abril. A denominação de dia da mentira ou dos tolos, diz "O fim" e eu concordo com ele, mascara o simbolismo da data, por isso preferimos a italiana e francesa que nomeia a data "Peixe de Abril".

Pense que a partir dela temos o aval da natureza para mergulhar cada vez mais no nosso inconsciente, para procurar nossas próprias respostas, revelar medos e desvendar sonhos que jamais poderíamos imaginar que estavam lá escondidos. As famosas peças (uma das minhas preferidas foi a matéria da BBC sobre uma plantação de espaguete) "O fim" pensa que são as manifestções mundanas de nosso afastamento de Apolo (Sol) em direção a Dionísio...

Acho que já falei muito hoje. "O fim" está cansado e quer preparar minhas resoluções de ano novo. O Equinócio de Outono está aí e ele está planejando algo grandioso, só espero que ele não resolva me contar somente em cima da hora...